07 novembro 2005

A Roupa do Publicitário


Você, caro e atento leitor, já ouviu falar, de algum paciente que tenha levantado da mesa de operações, tirado o bisturi da mão do cirurgião e feito a própria cirurgia? Pois é, em publicidade isso acontece. Muitos clientes chegam a tomar a caneta de nossas mãos para riscar palavras de textos, picham layouts, mostrando onde deve ficar um título, e param gravações de comerciais incorporando Kubricks e Hitchcocks, fazendo do diretor do filme um verdadeiro cambono de seus caprichos. Ai...ai... Jesus, toma conta. Mas perscrutando no fundo de minha mente um porquê para este tipo de atitude, uma explicação que dê resposta para essa diferença tão grande entre a relação paciente/médico e cliente/publicitário, achei uma só explicação: deveríamos nos vestir de branco.

Ninguém discute com um cara vestido de branco. Quem aponta o dedo para um lutador de karatê? Quem discute com um pai-de-santo se é a vela verde ou a azul que vai dar mais impacto na comunicação com o além? Quem fala para um médico, com aquele jaleco alvo, quase bento, quase um sudário, que aquela ultrassonografia que ele está mostrando poderia ter um degradê para ser mais vendedora? Ninguém. A razão? O branco. A soma de todas as cores. A cor divina. Dos mestres. A cor da barba do Pai Mei. Não é à toa que o branco nas civilizações orientais significa o luto. A morte. E quem ousaria mexer com a morte?

Na verdade, não só usaríamos uma roupa branca para impor respeito aos nossos clientes, como amarraríamos essa roupa, um kimono talvez, com faixas de diversas cores, uma para cada faculdade que fizemos, cada especialização, cada campanha bem sucedida, cada peça premiada, cada palestra que ouvimos, cada diretor de criação com o qual trabalhamos e entregaríamos a ele uma estreita faixa branca, dos simples, dos humildes, dos estagiários. Só para lembrar que, igual ao mestre que treina anos um kata, igual a um marinheiro que lava muito chão antes chegar a Almirante, igual a um médico que luta anos entre faculdade e especializações, muitas vezes com pouca grana, atendendo pacientes do SUS, num hospital sem material para trabalhar, também assim somos nós, publicitários, raladores que chegaram em algum lugar tomando muito tapa na cara do mercado para poderem sentar na frente de um cliente e dizer: olhe, fulano, é por aqui.

Não somos humoristas, nem animadores, somos profissionais. E como tal queremos ser tratados. Houve muito estudo, muita dedicação e, principalmente, muito investimento em educação, livros, revistas, filmes, exposições, cursos, peças de teatro, viagens, entre outras formas de acumulação informação e conhecimento para chegarmos na frente de nosso paciente e ele exigir dois comprimidos para dor de cabeça quando o caso é de neurocirurgia. Não só é uma ignorância, como também um desperdício de dinheiro.

Todavia, quando nos vestirmos de branco, tudo vai mudar. Vocês vão ver. Entraremos na sala do cliente quase como papas num concílio. E os clientes dirão: Habemos Publicitarium! E estenderemos nossos anéis do mickey para eles beijarem. Não? Não acontecerá assim? Bom, então, se não é assim que vai acontecer, se não é o branco que falta em nossos blazers da M.Officer, então deve ser a vergonha que falta em nossas caras e a coragem de dizer: "Dr. Fulano, eu estou aqui querendo ajudá-lo. Ajude-me a ajudar o senhor". Ajude-me a fazer a sua empresa crescer. Confie em mim e no trabalho que o senhor contratou. Cobre de mim e de minha equipe os resultados. Mas só nos cobre o que nos deixou fazer. E se mesmo assim ele pegar o bisturi, tudo bem. Só lembrem a ele, mais por ética que por pena, que não é com band-aid que uma hemorragia vai ceder.
Edgar Cardoso é redator publicitário, formado em Propaganda pela ESPM, concluindo MBA em Marketing pela FGV. Trabalhou e estagiou em diversas agências de São Paulo, entre elas Giacometti, QG e W/Brasil. Atualmente trabalha na Griffo Comunicação.

2 comentários:

  1. Rapaz, vou já tirar meu quimono do baú! Rsrsrsr

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  2. gosto de branco... branco é clean... clean é legal...

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Lembre-se que esse blog não é um ringue de boxe ou um octágono para que rolem as porradas.