23 julho 2009

Amazoniar Belém

Mercado do Ver-O-Peso

Depois da derrota na escolha das cidades-sede para a Copa do Mundo Brasil 2014, Belém do Pará precisa parar de ficar se auto-flagelando, se dizendo o pior dos seres e dos lugares ou de ficar na cômoda posição de demonizar "uspulíticus" e todo mundo achar que não é responsável por nada que acontece por aqui.

Todos os segmentos da vida na cidade precisam se unir para pensar como não ficar fora da próxima oportunidade de renascimento. Sim, porque a Copa não era uma oportunidade meramente esportiva, era, depois de muito tempo, a chance de um novo salto cultural, urbanístico, econômico, social e político, como não se vê desde o ciclo da borracha. Talvez uma das causas da perda da disputa foi termos visto a Copa como um campeonato de futebol. E ficarmos falando de Mangueirão, Remo e Paysandu, que para o mundo são o mesmo que nada.

Bem, mas não adianta ficar chorando sobre o açaí derramado. Temos que ter um pensamento que unifique a cidade e faça com que todas as ações, desde as mais pequenas até os grandes projetos estruturais, contribuam para construir uma marca mundial para a cidade. E esta marca está em nossas mãos, ou quase escorrendo, mas aí está: AMAZÔNIA. A marca querida, percebida, desejada, discutida, visualizada, imaginada, entendida e desentendida no mundo inteiro.

Belém precisa se amazoniar. Passar por um grande processo de amazoniação. Querer o amazoniamento de suas ruas, avenidas, praças, casas, hábitos, cheiros, cores, valores, atributos, estilos, personalidade. Isso não é fácil. Mesmo porque, em termos de associação com a marca Amazônia, estamos bem atrás de nossa concorrente Manaus, que certamente por essa vantagem levou a Copa para a capital do Amazonas. Superar Manaus é quase impossível, até mesmo porque algumas condições na natureza e da geografia são irreversíveis. Mas podemos fazer muito e competir em termos mais igualitários, até vencendo em algumas pelejas.

Amazoniar inclui idéias e ações de governo, de prefeitura, mas também de empresários, da indústria, das universidades, da mídia, das Igrejas, das comunidades, de todo o mundo. Amazoniar pode ser ir mudando aos poucos os nomes de todas as ruas da cidade para nomes de peixes, pássaros, flores, rios, fenômenos da Amazônia. Acho que São Paulo, que é chamada de selva de pedra, tem mais ruas com nomes da natureza do que Belém.

Amazoniar pode ser construir aquários nas principais praças de Belém, com quatro, cinco metros de altura, onde as pessoas possam ver pirarucus, tambaquis, tamuatás, tartarugas. Amazoniar pode ser parar de querer ser Fortaleza, Rio de Janeiro e São Paulo e assumir uma alma cabocla morena, ribeirinha, perceber que somos a capital do império dos rios, das praias de água doce com ondas, da chuva, do pitiú; que somos a capital do novo mundo cuja pauta primeira é a questão ambiental.

Amazoniar pode ser pagar à Madonna pra tomar banho em Mosqueiro e arrastar com ela toda a imprensa do planeta. Pode ser pagar o cachê do Kaká para passar uns dias tomando açaí e comendo pato no tucupi atraindo os olhares da Terra inteira. Pode ser trazer U2 para fazer show no Theatro da Paz, trazer a Amy Winehouse para se jogar do alto de uma mangueira abraçada com uma cobra e dizer que Belém é a loucura mais deliciosa. É, amazoniar não custa barato, mesmo porque o retorno do investimento vai ser mil vezes maior, trazendo ganhos como eventos do porte de uma Copa do Mundo.

Amazoniar Belém é tornar a cidade desejada por quem quer ecoturismo e aventura na natureza, como a Disney é desejada por quem quer fantasia infantil. Belém desejada por quem quer a Amazônia como o Peru é desejado por quem quer a mística de Machu Picchu. E esse negócio de dizer que nossa cidade é feia e suja não pode nos desanimar. Se fosse por pobreza e feiura essa multidão de gente que vai na Índia mudar a alma com seus gurus passaria longe de Nova Délhi. É claro que temos que resolver problemas, mas não podemos ficar achando que os lugares mais procurados do mundo são perfeitos. Ou alguém acha que Manaus e Cuiabá, para ficar só no tema da Copa 2014, já resolveram suas crises e são cidades de primeiro mundo?

Amazoniar pode ser assumir que sim, aqui jacarés andam pelas ruas, e criar miniparques onde as pessoas possam ver jacarés, cobras, peixe-boi. É virar a cidade de frente para o rio e para a baía, invertendo um equívoco de séculos que criou uma cidade envergonhada de sua geografia, evitando que tívessemos uma das maiores e mais belas avenidas beira-rio do mundo, indo do Guamá a Icoaraci. Nesta gigantesca orla poderíamos virar uma Copacabana Amazônica, com espaços de arte, cultura, lazer, esportes e entretenimento. Efervescência, gente criando música, poesia, uma bossa nova da selva.

Amazoniar não significa de nehnuma forma romper com a modernidade. Muito pelo contrário, é ir buscar o que a tecnologia tem de mais avançado para permitir um contato cada vez mais encantador com a natureza. É preciso criar equipamentos de entretenimento e acomodação seguros, inovadores e confortáveis para agregar ao encanto amazônico. É também fazer de Belém uma referência mundial na pesquisa de alimentos, perfumes, cosméticos e medicamentos feitos a partir da biodiversidade amazônica, atraindo para cá centros de pesquisa e pesquisadores, tudo integrado ao meio-ambiente, permitindo que as pessoas de Belém e do Pará vivam da natureza e deixem a natureza viver.

Esse amazoniamento iria criando interesse cada vez maior, gerando mídia espontânea no Brasil, na Europa, nos Estados Unidos, na China, aumentando a demanda do turismo, de congressos, de seminários, de eventos, fluxo de gente interessada em Belém. Só assim poderemos ter condições de receber e remunerar empreendimentos como hotéis de selva, restaurantes típicos, lanchonetes, casas noturnas, teatros, estabelecimentos amazônicos, criando uma atmosfera mágica, gerando por Belém o mesmo interesse que o mundo tem pelo açaí, que ao ser bebido parece dar a sensação de estar ingerindo a selva e o vigor dos índios.

É preciso começar logo o amazoniamento de Belém, para que no médio prazo, depois de uns dias passeando na capital do Pará, uma pessoa lá no Japão, ainda cheirando a patchuli, responda assim quando perguntarem o que ela fez nas férias: - Fui amazoniar! Estava em Belém do Pará.

Glauco Lima

5 comentários:

  1. Texto excelente!! Todos temos que agir, e rápido. O que cada um de nós pode fazer? Por menor que seja, façamos né! :) Abraço!

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  2. Abraço Artur Isso é verdade! Hoje estava lendo um artigo da marina Silva em que ela fala no cotrabando até de besouros da Amazônia. Pq Belém não tem grandes museus onmde o povo daqui e o de fora possa ver os besouros gigantes, as lindas borboletas, os insetos fanstáticos da floresta. Museus interativos, modernos, unindo cultura e entretenimento com ciência.

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  3. O Edyr Augusto e o Nilson Chaves poderiam compor algo em relação a isso. Uma espécia de hino. Algo como "Bom dia Belém" misturado com "Olhando Belém".

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  4. Texto brilhante, parabéns Glauco!

    Explanou de forma brilhante o sentimentos de muito beleneses, falou-se entre outras coisas, que as pessoas deveriam se unir, mas nao deixou nenhuma forma de contato , apesar de saber quem você é. Então as ações devem ser nao somente unidas como tb centralizadas, criando uma verdadeira força-tarefa.

    precisamos pulverizar essa ideia, já imagino uma logomarcar, slogan, jingle, site, blog, twitter, vejo empresas, politico, partidos, igrejas e principalmente pessoas se unindo para transformar isso em realidade.

    algumas pessoas criticaram o termo amazoniar, transformar qualquer palavra em verbo, na minha concepção a escolha não poderia ser melhor, sendo o verbo uma palavra que indica ação (precisamos sair desse estado de inercia) Estado (essa condição deve ser pra sempre) e fenomeno da natureza, (e o que queremos transformar belem, metaforicamente falando) não vejo neologismo melhor.

    precisamos colocar isso em prática

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  5. FABREGAS
    Por favor,
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    Obrigado!

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Lembre-se que esse blog não é um ringue de boxe ou um octágono para que rolem as porradas.