14 fevereiro 2008

Foi por medo de avião...

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Eu estou de férias.

Quem viaja de férias sofre de tensão-pré-férias.

Você sabe do que estou falando: zerar as pendências no trabalho, deixar as contas pagas, a casa em ordem, a despensa razoavelmente abastecida pra não se aborrecer logo de cara com a falta de papel higiênico, fazer as malas, entre outras coisas que consomem uma energia enorme.

O fato é que, exaurida, embarquei naquele grande ônibus lotado numa tarde de segunda-feira.

Antes de o comissário de bordo começar aquele teatrinho de instruções que ia me fazer ter certeza do quanto era talentoso Charles Chaplin, fiquei de conchinha com Morfeu.

Totalmente entregue, fui despertada por uma pessoa aflita, mão gelada. Na fração de segundo que levei entre compreender que estava num avião, que estava de férias e que havia uma alma desesperada ao meu lado, tentei entender por que a dita cuja me pedia pra rezar.

Rezar?

Pois é. Não bastasse a crise aérea, havia ainda a crise no tempo, que fazia o avião sacudir pra lá e pra cá, pra lá e pra cá, transformando meu cérebro num verdadeiro milk shake.

Estávamos atravessando uma zona de instabilidade.

Céus... Caos aéreo, zona aérea, zona de instabilidade... Não bastava o sofrimento em terra, eu também teria que sofrer no ar? E quem era aquela criatura neurastênica ao meu lado? Não sei e não fiz a menor questão de saber sobre quem quase tira o grande sonho da minha vida: morrer dormindo.

Confesso: o negócio tava realmente muito feio! Ainda assim, tive a tranqüilidade de colocar o RG dentro do sutiã. Podiam até não me achar por inteiro, mas uma certeza teriam: estes peitos são da Emanuelle!

O avião não caiu, a desesperada desceu em São Luís e segui no grande ônibus lotado.

Quando achava que ia dormir, vinha o serviço de bordo com seu impecável pacotinho de amendoim. Quando achava que ia dormir, era avisada que o avião estava pousando, senhores passageiros queiram por gentileza afivelar os cintos de segurança.

Confesso que lá pelas tantas,já ria da rotina estabelecida de quase dormir, quase comer, quase chegar ao meu destino, mas não pude deixar de gargalhar quando o Comandante Pina avisou que estávamos passando por Campina Grande, “esta bela cidade, muito festiva”.

Olhei pela janela e vi luzes que podiam ser Campina Grande, Londres, Tóquio ou Vigia.

Definitivamente, não havia Rivotril que desse jeito de um ser humano seguir tranqüilo naquela viagem.

Embasbacada por ter visto Campina Grande do alto, fui acometida por uma dor de cabeça fenomenal. Peço um paracetamol. Não tem.

Solícita, a comissária que usava uma verdadeira escala pantone de azul como sombra veio me oferecer uma Neosaldina. Não, não era do kit médico do avião, era dela mesmo.

Gentilmente recusei.

Sou alérgica a dipirona e a última coisa que gostaria era ter uma crise dentro de uma aeronave que faz parte da mais moderna frota do Brasil, mas sequer dispõe de um único analgésico para oferecer aos senhores passageiros.

Se demorasse mais um pouco, seria capaz de imitar o gesto papal de beijar o solo.

Nota da Manu:

Não vou opinar sobre o comercial que comemora os 6 anos da Gol. Aquele em que crianças se transformam em funcionários da empresa; 6 anos de empresa, só crianças de 6 anos fazendo o comercial – pescou o lance criativo?

Pois é. Mas que o diretor e companhia zeraram o estoque de remédio pra dor de cabeça ao gravar o dito cujo, disto eu não tenho a menor dúvida!

Emanuelle Conde é redatora publicitária e, quando o tempo permite, cronista.

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