10 agosto 2006

O comedor de mingau e o catador de milho


Vou começar com uma frase de minha avó: todo mundo quer comer o mingau, mas ninguém quer plantar o milho. Esta frase se aplica a vários setores da vida humana e, na propaganda, em especial aos que pretendem estagiar na criação.
Atendo muitos candidatos a estagiários, crianças perdidas no limbo da desinformação e da falta de especialização do mercado paraense, sem horizontes por conta da odiosa prática dos “QIs”, que abundam em nosso mercado. Sim, a prática do “quem indica” é o fermento da incompetência e o adubo da indolência, fruto de um pensamento antiquado, contrário ao capitalismo, que não deixa as empresas se desenvolverem e premia a incompetência. Para romper essa barreira, a única alternativa de quem não é parente dos clientes ou dos donos da agência é se diferenciar pelo trabalho.
Pois é, gente, não contaram essa parte, não é? Tem que trabalhar. E quando o futuro estagiário descobre isso, não há ninguém que não se remexa na cadeira. Eles vêm procurando uma luz. E quando conto que o modo mais fácil e consistente de entrar na agência sem pistolão é fazer um portifólio consistente, que mostre ao empregador que este terá vantagens em contratar aquela pessoa, o cara quer desistir. É claro. Em vez da ribalta, das festas e das modelos gostosas dou ao cara o trampo de escolher 15 produtos, fazer títulos e idéias visuais para eles e me mostrar, juntamente com a certeza de ele terá que refazer esses anúncios várias vezes até ficar bom.
É, meus amigos... vamos à frase da vovó novamente: todo mundo quer comer o mingau, mas ninguém quer plantar o milho. Há muitas cigarras e poucas formigas. Mas também não vou aqui fazer o discurso chato do trabalho 24 horas. Isso é uma babaquice. Trabalhar muito mais do que o normal, o tempo todo, só cansa você e tira experiências de vida que alimentam o nosso trabalho de criativos. Mas, meus filhos, todo mundo rala. E cada vez mais estou convencido que a riqueza vem de uma forma de pensar e não da sorte ou das vantagens de nascença. E não venha ninguém me dizer que é muito melhor ser pobre do que rico que eu dou uma surra de mouse. Pobreza não tem nada a ver com caráter ou humildade.
É preciso, antes de tudo, mudar nossa mentalidade. Sei que são também os séculos de influência religiosa que ainda nos deixam esperando que as coisas nos caiam do céu. Mas acredite que Deus ajuda a quem se ajuda. E se você não acredita em Deus (o que também respeito, não estou cá discutindo a fé), nem essa desculpa você tem. Comece, hoje, filho. Faça acontecer.

Edgar Cardoso é redator publicitário, formado em Propaganda e Marketing pela ESPM-SP, concluindo MBA em Marketing pela FGV. Trabalhou e estagiou em diversas agências de São Paulo, entre elas: Giacometti, QG e W/Brasil. Atualmente trabalha na Griffo Comunicação. edredator@yahoo.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Lembre-se que esse blog não é um ringue de boxe ou um octágono para que rolem as porradas.